O Brasil chega a 2025 com uma matriz elétrica que já é referência global: quase 90% renovável. O avanço da energia solar e eólica consolidou o país entre os líderes mundiais na geração limpa. Agora, a nova fronteira é integrar armazenamento, redes inteligentes e hidrogênio verde (H₂V), o combustível que promete descarbonizar a indústria e o transporte pesado.
O potencial econômico, social e ambiental é imenso. Mas os desafios de infraestrutura, regulação e qualificação profissional ainda definem o ritmo dessa transição.
Onde estamos em 2025
O país vive o melhor momento da história energética recente:
- 90% da eletricidade vem de fontes renováveis (hidrelétrica, solar e eólica).
- 50% da energia total consumida na economia é renovável, o maior patamar desde 1990.
- O setor de energia responde por apenas 20% das emissões nacionais, frente a 76% da média global.
Em síntese: o Brasil é referência em eletricidade limpa e avança rapidamente na diversificação da matriz.
Solar e eólica: o novo “motor duplo”
Eólica
- 33,7 GW instalados (dez/2024), o Brasil é o 5º maior em capacidade onshore.
- Potencial técnico superior a 300 GW, com offshore já em fase de regulação.
- Geração noturna e custo marginal competitivo tornam o setor base para o futuro da descarbonização.
Solar
- Crescimento recorde: +14,3 GW adicionados em 2024, totalizando 52,2 GW instalados.
- Já é a 2ª maior fonte da matriz elétrica (21,3%).
- Geração distribuída representa 67% da capacidade: mais de 3 milhões de sistemas ativos.
Tendência 2025–2030: usinas híbridas (solar + eólica + baterias), digitalização do despacho e expansão do mercado livre.
Hidrogênio verde: a peça que faltava
Com o Marco Legal do Hidrogênio de Baixa Emissão sancionado em 2024, o Brasil entra na corrida global do H₂V.
Hubs em Pecém (CE) e Suape (PE) já acumulam Memorandos de Entendimento bilionários e projetos em desenvolvimento com parceiros como o Porto de Roterdã.
Aplicações:
- Produção de fertilizantes verdes
- Aço de baixo carbono e combustíveis sintéticos
- Armazenamento de excedentes de energia solar e eólica
O H₂V será essencial para descarbonizar setores de difícil eletrificação, como siderurgia, refino e transporte marítimo.
As quatro travas a destravar
- Infraestrutura elétrica
- Transmissão ainda insuficiente no Nordeste provoca desperdício (curtailment).
- É urgente investir em armazenamento em larga escala (baterias, PCH reversível) e redes flexíveis.
- Regulação e instituições
- Abertura do mercado, regras de offshore e hidrogênio ainda carecem de clareza e previsibilidade.
- Marco regulatório precisa garantir segurança jurídica e tributária para atrair capital.
- Financiamento
- Custo de capital ainda elevado.
- BNDES, bancos multilaterais e fundos climáticos são essenciais para alavancar o setor com crédito verde.
- Tecnologia e talentos
- Necessidade de investimento em P&D e manufatura local para reduzir dependência externa.
- Formação acelerada de engenheiros, técnicos e instaladores será decisiva.
Por que acelerar?
A transição energética é, ao mesmo tempo, política industrial, social e climática.
- Econômico: geração de empregos verdes e novas cadeias de valor (solar já criou 1,4 milhão de postos desde 2012).
- Social: inclusão energética na Amazônia e regiões isoladas.
- Ambiental: emissões por MWh entre as mais baixas do mundo e maior segurança energética frente a crises hídricas e combustíveis fósseis.
O que vem a seguir
Prioridades até 2030:
- Investir em transmissão, armazenamento e P&D (baterias, soluções térmicas, hidrelétricas reversíveis).
- Criar regulação pro-investimento (offshore, hidrogênio, PPAs e mercado livre).
- Expandir funding climático (green bonds, debêntures incentivadas, blended finance).
- Estimular conteúdo local e qualificação profissional para consolidar uma indústria verde nacional.
Fontes
- Ministério de Minas e Energia (MME) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
- ANEEL, ABSOLAR e ABEEólica (dados setoriais, 2024–2025).
- GNPW, InfoMoney, CNN Brasil, Eixos, CartaCapital, Megawhat – consolidação de indicadores recentes.
- gov.br – Marco Legal do Hidrogênio de Baixa Emissão (2024).
- Portos de Pecém e Suape – planos de hubs de H₂V e parcerias internacionais.

